quinta-feira, 5 de maio de 2011

Um novo coração, uma nova criação


Reflexões sobre o nosso reencontro
Pe. Livio Masuero

Tantas coisas aconteceram neste sábado e neste domingo, basta que nos lembremos o que celebramos na liturgia Nos alegramos também com toda a Igreja com a beatificação do Papa João Paulo II e estávamos reunidos em torno de Cristo Jesus em reencontro e pedíamos:

“Dá-nos um novo coração para que possamos seguir o teu caminho.”

Basta dar uma olhada nos depoimentos para vermos como este reencontro foi importante. Dêem uma olhada nos comentários da postagem anterior. Mas queria trazer presente que, enquanto estávamos realizando o reencontro com este tema, a Igreja rezava e meditava, na sua oração oficial, o texto que está reproduzido abaixo. É de Santo Agostinho e é muito bonito.

Aquele que tem um novo coração, é um homem novo, uma mulher nova, uma nova criatura em Cristo Jesus. Quem vive isto, vive o seu batismo. Santo Agostinho nos fala disto ao falar em um segundo domingo da Páscoa, há cerca de 1.600 anos atrás, aos cristãos adultos que tinham sido batizados na Vigília Pascal (oito dias antes). E como o texto continua atual para nós, hoje!

Tomei a liberdade de assinalar as pastes onde aparece o que significa ter este novo coração: é nascer de novo; é morrer e ressuscitar com Cristo; é revestir-se de Cristo; é viver a unidade, viver uma vida nova; é caminhar por um caminho seguro (que é o próprio Cristo); é entender a encarnação como um mistério de amor do Pai manifestado em Cristo; é viver a Páscoa no tempo e ver o significado profundo do Domingo como o terceiro, o primeiro e oitavo dia; é estar já ressuscitado com Cristo e buscando cada vez mais aquilo que vem do alto.

Que neste ano possamos cada vez mais mergulhar no coração de Cristo para penetrarmos no coração do Pai e assim transformar o nosso coração em coração de filhos e de irmãos.

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo
(Sermo 8, in octava Paschae 1. 4: PL46, 838. 841) (Séc.V)
Nova criatura em Cristo

Minha palavra se dirige a vós, filhos recém-nascidos, pequeninos em Cristo, nova prole da Igreja, graça do Pai, fecundidade da Mãe, germe santo, multidão renovada, flor de nossa honra e fruto do nosso trabalho, minha alegria e coroa, todos vós que permaneceis firmes no Senhor.

É com palavras do Apóstolo que vos falo: Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não deis atenção à carne para satisfazer as suas paixões (Rm 13,14), a fim de que, também na vida, vos revistais daquele que revestistes no sacramento. Todos vós que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo. O que vale não é mais ser judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um só, em Jesus Cristo (Gl 3,27- 28).

Nisto reside a força do sacramento: é o sacramento da vida nova que começa no tempo presente pela remissão de todos os pecados passados, e atingirá sua plenitude na ressurreição dos mortos. Pelo batismo na sua morte, fostes sepultados com Cristo, para que, como Cristo ressuscitou dos mortos, assim também leveis uma vida nova (cf. Rm 6,4).

Agora caminhais pela fé, vivendo neste corpo mortal como peregrinos longe do Senhor. Mas o vosso caminho seguro é aquele mesmo para quem vos dirigis, Jesus Cristo, que se fez homem por amor de nós. Para os seus fiéis ele preparou um grande tesouro de felicidade, que há de revelar e dar abundantemente a todos os que nele esperam, quando recebermos na realidade aquilo que recebemos agora só na esperança.

Hoje é o oitavo dia do vosso nascimento. Hoje completa-se em vós o sinal da fé que, entre os antigos patriarcas, consistia na circuncisão do corpo no oitavo dia depois do nascimento segundo a carne. Por isso, o próprio Senhor, despojando-se por sua ressurreição da mortalidade da carne e revestindo-se de um corpo não diferente mas imortal, ao ressuscitar consagrou o “dia do Senhor”, que é o terceiro dia depois de sua paixão, mas na contagem semanal dos dias, é o oitavo a partir do sábado, e coincide com o primeiro dia da semana.

Por conseguinte, também vós participais do mesmo mistério, não ainda na realidade perfeita mas na certeza da esperança,porque recebestes a garantia do Espírito. Com efeito, se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. Pois vós morrestes, e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória (Gl 3,1-4).